Overview

Neste livro instigante e profundamente analítico, o autor mergulha no conflito persistente que assola o Sahel da África Ocidental para propor uma nova e inovadora abordagem às relações internacionais contemporâneas. Longe de oferecer uma leitura meramente factual, a obra convida o leitor a refletir sobre as motivações políticas, econômicas e sociais que moldam a atuação dos chefes de Estado envolvidos nesse cenário de instabilidade crescente. Para o autor, os comportamentos desses líderes refletem transformações significativas em seus objetivos estratégicos e interesses nacionais, o que coloca a análise de suas decisões no centro da narrativa. Desde a queda do regime de Muamar Kadafi na Líbia, em 2011, o vazio de poder criado abriu espaço para a proliferação de movimentos jihadistas transnacionais como o Boko Haram, o Ansar al-Sharia e o Harakat al-Shabab al-Mujahideen. Esses grupos, longe de serem apenas influências externas, souberam se enraizar profundamente nas sociedades sahelianas, explorando rivalidades históricas, tensões étnicas e um sentimento de abandono por parte dos Estados centrais. Assim, a violência extremista ganha uma dimensão local, alimentada por frustrações legítimas e por uma ausência estrutural de oportunidades econômicas e inclusão social. O conflito no Sahel é condicionado por dois fatores determinantes. O primeiro é a busca incessante por renda econômica em uma região rica em recursos naturais - como ouro, urânio, petróleo e terras raras - cujos benefícios raramente chegam às populações locais. O segundo fator diz respeito às profundas desigualdades nos investimentos públicos, que geram descontentamento, marginalização e instabilidade. Essas assimetrias estruturais alimentam ciclos de violência política e revolta social, perpetuando a fragilidade institucional e a perda de legitimidade dos Estados. Frente a essa realidade, países como Mali, Níger e Burkina Faso passaram a adotar estratégias ambíguas e por vezes contraditórias. Por um lado, travam confrontos armados diretos com grupos insurgentes e, por outro, reprimem setores das suas próprias populações, acusando-os de cumplicidade ou oposição política. Paralelamente, observa-se uma tendência crescente ao isolamento: alianças bilaterais seletivas substituem antigas cooperações multilaterais, e novos discursos de desenvolvimento ditos ""neo-progressistas"" emergem, muitas vezes marcados por uma retórica de soberania reforçada e rejeição da ingerência externa. Dividido em duas partes complementares, o livro oferece, primeiramente, uma análise histórica detalhada das rebeliões tuaregues e da ascensão do terrorismo islamista, destacando suas raízes profundas e suas transformações ao longo das últimas décadas. Na segunda parte, o autor propõe um arcabouço teórico original para compreender o isolamento como uma nova forma de posicionamento estratégico no cenário internacional, rompendo com paradigmas tradicionais de dependência ou alinhamento. Ao final da obra, Doumbia defende com firmeza a construção de uma parceria transaariana, baseada em princípios de prosperidade compartilhada, reconhecimento mútuo e cooperação sustentável. Segundo ele, apenas por meio de investimentos equitativos, respeitando as especificidades locais e promovendo a inclusão social, será possível mitigar os conflitos persistentes e lançar as bases para uma paz duradoura na região. Esta proposta se apresenta como um convite à ação coletiva e à redefinição das relações entre os países do Sahel e seus parceiros internacionais, apontando para um futuro mais justo e equilibrado.

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9798278348573

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